Gustavo Lima destaca garra de Andressa Suita
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Aos 12 anos, ela cortava cana na comunidade de Barro Amarelo, em Serra Azul de Minas (MG), depois foi ser doméstica na cidade grande, mas jamais deixou de estudar! E nunca esqueceu do conselho da mãe: “Estudar era a única chance que tínhamos, dizia ela”.
Obediente, Antonia Marina seguiu à risca a recomendação. Determinada a seguir no caminho da humildade e retidão, ela mantém antigos hábitos. “Ando a pé, viajo de ônibus e vou a todos os lugares”, disse. Ela faz trabalhos sociais e aproveita para levar às periferias a própria história que mostra que sonhos podem se tornar reais.
A superação
Aos 14 anos, Antonia Marina partiu para a cidade grande, Belo Horizonte foi o destino. O emprego que conseguiu foi o de doméstica e a garota vislumbrou a possibilidade de conseguir também um teto na casa da patroa, mas logo veio a frustração e o preconceito. Mas nada a desanimou.
A juíza lembra dos tempos como doméstica. “A casa tinha um quartinho de empregada, algo remanescente da senzala, mas não pude ocupá-lo”, recordou.
É que a dona da casa tinha medo da presença da menina Antonia Marina no local. “A patroa disse que eu seria uma ‘tentação’ para o marido dela, como se não fosse dever de um homem de 60 anos respeitar uma menina”, disse a juíza, que dormia na rua, sem abandonar o conselho materno.
Certo dia, Antonia comprou um jornal para procurar uma melhor oportunidade de trabalho e e esbarrou com o concurso para oficial de Justiça: “Não exigia nível superior e as matérias eram Língua Portuguesa, Matemática e Noções de Direito”. Segundo ela, o problema era a parte jurídica se revelou um desafio.
No anúncio do concurso, havia ainda a venda de apostilas de Direito e um cursinho. Sem dinheiro para comprá-las e participar das aulas, Antonia foi até a escola preparatória. A pretexto de obter alguma informação, ela verificou que uma funcionária do local reproduzia as cópias dos cadernos de estudo em um mimeógrafo e que algumas folhas borradas eram descartadas em uma lixeira.
Assim com as folhas descartadas, a estudante montou a apostila. A funcionária teria percebido, desconfia Antônia, mas não quis constranger e começou a deixar as cópias borradas em um outro cesto, separadas do lixo comum.
“Não podemos fazer as pessoas felizes, mas podemos minimizar a infelicidade”, declara Antônia, referindo-se ao ato da desconhecida.
Muito talento
Aos 21 anos, Antonia foi aprovada e sob risco de ser considerada inapta ao cargo. Após superar a fase da prova escrita, teve três oportunidades para obter êxito no exame psicotécnico. Nas duas primeiras, com um discurso ensaiado para impressionar, conforme conta, foi reprovada. Na última chance, conquistou a vaga ao responder à examinadora por que pretendia ser oficial de justiça.
“Falei para a examinadora que há vocação e necessidade. No meu caso, era necessidade, porque morava na rua”, recordou Antonia Maria, que viu a vida mudar ali. Também a necessidade virou talento e vocação.
Em seguida à aprovação no concurso, a juíza obteve outra vitória: ingressar no curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, formando-se em 1991. Em 22 de dezembro de 2002, ela tomou posse no cargo de juíza do Tribunal de Justiça da Bahia. Ela atua na comarca de Lauro de Freitas há dez anos. Na Universidade Federal da Bahia, fez mestrado em Segurança Pública, Justiça e Cidadania.
“Reverencio quem veio antes e celebro as novas gerações”, disse a juíza com humildade. “Quando se fala em mulher de sucesso, 90% se referem àquela que se destacou em um universo tido como masculino”, lamentou.
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